24/04/09

o que não esquecerei

"Quanto tempo passou?

Fui olhar-te, recordar-te, agradecer-te, admirar-te; lá, na espuma do mar, nas ondas batidas, na água salgada, onde tu gostavas de viver.

Foi há tanto tempo, não foi?!

Tinhas aquelas ideias malucas que ninguém entendia, aquela forma peculiar de ver o mundo, aquele olhar mais longínquo do que o nosso e um espírito indestrutível.

Teve consequências?

Teve! Foi confuso, foi duro, foi difícil, foi injusto!

Depois?

Depois naquele dia escuro solarengo, veio a esperança, o sonho e a nossa liberdade.

Perdurou?

Não tanto quanto imaginávamos e desejávamos… mas posso, pelo menos, estar aqui a falar contigo… sem medo, sem pensar no que vai acontecer depois, sem recear quem vem invadir a minha casa.

Foi duro?

Foi! Mas não lamento nem um milímetro daquele sofrimento porque ele me recorda o teu corpo machucado, as tuas feridas, as marcas; mas com ele recordo também a tua força, a tua persistência, a tua cabeça erguida, sempre, o teu sorriso, a tua vontade indomável, a tua voz doce e o teu olhar firme.

Sabes?...

A tua história passou de boca em boca aos nossos filhos e eles sabem-na de cor e repetem-na e vivem-na, com a mesma intensidade que nós. Há homens como tu que se transformam em ídolos e nunca morrem e se mantém para orientar a nossa vida.

As marcas que deixaste em mim (em nós) são tantas, mas deviam ser tão fortes, que conseguissem fazer os nossos olhos verem tão além quanto os teus…"

(Abril 2006 ou 1974 ou 2009 e sempre)


As histórias não se repetem, nem se eternizam, recriam-se, não é?!

Sabes... Sabes? Sabes.

É que deste-nos uma coisa nova e ainda não aprendemos a usá-la.


(mas vamos aprender, não vamos?!)



22/04/09

friends

Decididamente não gosto que me tratem por fofinha, flor, princesa, gatinha, xuxu e afins. Dá-me sempre a impressão que a pessoa não faz a menor ideia quem sou e, por via das dúvidas, trata toda a gente por igual, não vá enganar-se.

De igual modo nunca gostei de entrar numa qualquer loja e ser tratada por “a menina”. Ao contrário do que se possa pensar, não me parece tratar-se de um elogio, porque eu realmente sempre apreciei todas as idades por que passei e o tempo de menina já foi no milénio passado, assim sendo, a designação assemelha-se mais a um abuso de confiança por parte do empregado ou dono de estabelecimento que, sinceramente, não conheço de lado nenhum e a quem não permiti qualquer intimidade.

Tudo isto para chegar à designação “amigo”.

É que na mesma linha de pensamento, não consigo encaixar que alguém que acaba de me conhecer me trate por amiga, tal como não passaria pelo sentido fazê-lo. Amigo não é uma coisa que nasça de geração espontânea, que surja assim do nada ou que exista só porque sim.

Conheço pessoas há vários anos que são excelentes colegas, mas que provavelmente nunca serão amigos. Outros há, que dificilmente irão ultrapassar aquela barreira do simples conhecido. Um elevado número mantém-se na posição do quase amigo que é muito similar ao que designo por projecto de amigo.

Amigo? Amigo é alguém com quem mantenho uma relação muito especial, com características muito próprias. Alguém em quem confio, por quem nutro um imenso carinho, de quem discordo e com quem discuto sem que a proximidade seja abalada, até porque a concordância não é imposta nem exigida, mas o respeito pela diversidade sim, com quem converso mesmo em silêncio, que se afasta fisicamente permanecendo sempre ali, com quem mantenho uma intimidade completamente assexuada porque amigo não é homem nem mulher, é amigo. Tudo o resto, na melhor das hipóteses, será um potencial projecto de amigo.

13/04/09

sim!! é verdade!!

Porque me têm perguntado que história é essa e se é verdade... sim!!! é verdade!!!!



"Não! A sério que eu não procuro encrenca! Elas é que vêm ter comigo!!


Conheço-o há anos, ontem tive o prazer (?) de conhecer a mais recente namorada. Lindissima é um facto! Elegante! Fora isso, é uma daquelas pessoas incapazes de um sorriso, eu desconfio que se enganaram na prótese dentária, colocaram-lhe dentes azuis e ela tem vergonha de mostrar. Simpática! (?????) Está bem, já me tinham dito, mas gosto de ser eu a tirar conclusões. Possuidora de uma modéstia invejavel, tanto que, a certa altura da conversa, referiu “eu exijo que todos os alunos me tratem por doutora!”. Acho muito bem, até porque tenho a certeza que provém de uma distinta família de apelido Dr. e, sendo assim, ele consta do seu BI desde o tempo em que o espermatozoide do progenitor, ainda andava à procura do caminho.


Após ter elogiado a minha “pobreza” em relação ao cavalo de 4 rodas em que circulo, fez um apreciável reparo à minha falta de gosto no que concerne ao azul escolhido na decoração da casa.


Na sequência dos elogios referiu o bairro sem nível, a TV em vez de um grande plasma como o seu, o computador cujo teclado branco não combina com o monitor preto, o que aliás, eu concordo plenamente e estou certa, que é por isso que acabo sempre a escrever estas tretas. Entretanto, considerou-me simpática, embora desprovida de sexualismo (eu acho que ela queria dizer sensualismo, mas deve ter-se esquecido de estudar essa parte do dicionário).


Finalmente, sentámo-nos todos à mesa e fiquei a saber que com o meu faqueiro, a distinta senhora, usaria “outro tipo de toalha, mais clássica, está a ver?!”. Estou!! Até estou a ver para além da toalha!!


Valeu-me ter sido elucidada que, afinal os bifes com cogumelos que eu confeccionei se chamam “viande au champignon” (tive que encher a boca para balbuciar aquilo correctamente) e que ela prefere pratos mais exóticos e menos vulgares.


A propósito de exóticos e invulgares, lembrei-me logo que sei fazer um acepipe. “Raspei-me” para a cozinha, “saquei” da lata de comida das gatas para dentro de uma travessa, salpiquei com uma bebida de não sei o quê de zimbro que estava no armário, mais uns salpicos de picante daquele tipo fogo, uns raminhos de salsa e uns pickles e surgi vitoriosa na sala: “Este tem de provar! Estou certa que vai gostar. Costumam servi-lo nos jantares da família real inglesa. Foi uma amiga cuja mãe é lá cozinheira que me ensinou!”


Et voilá! Fez sucesso! A senhora adorou e eu fiquei a acreditar que comida de gato é muito mais apropriado que os meros bifes com cogumelos, para servir a pessoas ilustres!"


(3 de Junho 2007)
porque a minha paciência é grande mas tem limite