22/01/10

juro-vos que não custa nada

não estava nada nos meus planos publicar fosse o que fosse mas... é superior às minhas forças quando se trata de...

vá lá, não custa nada, é como fazer uma banal análise e garanto-vos que já vi crianças a quem um desses banalissimos gestos devolveu o sorriso de uma vida.

os contactos são estes:
919107979 ( Ana Bernardes )
239480700 (Centro de Histocompatibilidade do Centro – HUC)

a colheita não tem obrigatoriamente de ser feita lá


chama-se Sofia e tem 7 meses
(cliquem no nome e espreitem)


01/01/10

l'inizio...

“Ah um novo ano… e?... é mais um. Só mais um? Talvez nem chegue a ser mais um… que importa? Já foram tantos…

Sentou-se placidamente no cadeirão (naquele cadeirão…). Passou revista ao livro de cheques - nada de fortunas, à sala acolhedora - nada de pomposo, à pele gasta - nada de beleza. Aos sonhos, aos pesadelos, às cicatrizes, ao som dos trovões, da chuva a cair e do chilrear dos pássaros naquela árvore, a tal. Passou revista às estradas percorridas. Às águas onde nadou, ao ar que respirou e à vida consumida.

Sentou-se paulatinamente no cadeirão (ah abençoado cadeirão…). Passou revista aos amores e desamores. O amor. Essa coisa indefinida, mentida, desprotegida, iludida ou fingida. Passou revista aos juramentos, aos amo-te ditos e repetidos, perdidos em difusas palavras, ocas, efémeras, fortuitas, sem sentido, sem a razão de uma qualquer mera discussão.

Sentou-se calmamente no cadeirão (baloiça o cadeirão…). Como quem baloiça promessas de eterno. Nada é eterno. Nada é suficientemente eterno nem na vida nem além. Nem o corpo, nem a memória, nem os sonhos, nem pesadelos, nem nós e nem os nós apertados, nem amores nem desamores. Nem mesmo o regresso de quem torna à casa abandonada que ainda fede a sedução e magoa o coração de quem nela poisa a vista. Mas insiste, não desiste e persiste, porque é mais que a sua vida, mais forte que o tal amor (ou desamor…?) e sem ela não vive embora negue. Invertido. Numa ténue negação porque nada é eterno. Nem a mágoa da partida. Nem armadura fendida. Nada é eterno. Por isso se programa um post mas não a vida que não é feita de poesia.

Agarra o cadeirão (o velho cadeirão…) como quem estanca o sangue que lhe corre nas veias, que lhe queima o coração, que lhe enche de raiva o peito… em solidão… desilusão… que se fique por aí então, na sua terna ilusão, na sua vasta emoção, na sua ignóbil ambição de veneração. Que outrem parte, como quem parte a comoção. Porque não é A como a, nem pura nem perfeita, nem superior, nem estampa, nem feita por medida. Nem comedida. Porque nem é A de a tal, de aquela ou a outra… ou a única… não é nada (mas é tudo!). Porque nada é eterno, nem promessas nem juramentos, nem a alma nem o corpo, nem as camas que percorreu nem as que ambicionou, nem os doces que provou, nem os ninhos onde regressa como forma de chamamento ou de preenchimento do ego. Nem as palavras encantadas, nem versos nem poemas, nem amores e desamores, nem a magia que se esvai na soberba altivez que condena e ordena provocante. Nem o encanto atirado para o canto, nem o canto do rio, nem o silêncio do lago, nem um sublime orgasmo.

Balanceia no cadeirão (maldito cadeirão…) como quem baloiça a vida com a doce sensação de ainda respirar o ar, de ainda ver o mar, de ainda bailar, quando tapa os ouvidos, quando fecha os olhos, quando se deixa ir e abafa na alma o pesar, enquanto o corpo num esgar se dissipa contorcido, retorcido, sem sentido. Proibido.

Abandona o cadeirão (o mesmo cadeirão…) como quem abandona a mágoa. Como quem se atira ao dia, como quem agarra a noite. Como quem larga um ano. Porque tudo se repete. E repete e repete. E nada é eterno. Nada. Nem o pássaro, nem o trovão, nem a chuva a cair. Nem o rio, nem o mar e nem lago. Nem o ar que se respira. Nem mentira comprida. Nem verdade desmentida. Nem a história (ou é estória?...) antiga. Nem o que se quer só porque se não tem. Nem poema de aniversário oferecido a alguém. Nem a ficção em que vive. Nem o leito onde se dorme por engano, embriaguês ou vingança. Nem a aberração da represália. Nem a ameaça de traição. Nem sua concretização. Nem a vida inventada que fantasia de falsa adoração. Nem o dia e nem a noite. Nem o trabalho duma vida, nem o ócio que nos satura. Nem labor jogado fora. Nem a paz após a guerra. Nem a ponta do giz, nem o quadro onde risca, nem aquilo que escreve. Nem o livro que se lê, nem o filme que se vê, nem o bailado que se dança. Nem palavra nem silêncio. Nem fortuna, nem estampa. E nem beleza nem fama. Nem orgulho desmedido. Nem o esgar da dor. Nem o corpo. Nem o riso, nem a lágrima. Nem o grito. Nem a raiva. Nem o sorriso de menino. Nem memória perdida. Nem um porto de abrigo. Nem o Sol que nos queima, nem a lua escondida. Nem infância nem velhice. Nem o sono nem o sonho. Nem a magia dum orgasmo. Nem o feitiço do amor. Nem o encanto do momento. Nem o velho cadeirão…

nem o ano…

nem o tempo…

e nem a vida…”

fine





Fez um ano que criei este blogue, à semelhança de outros não importa o porquê.

Valeu…

Agora o tempo é escasso e, confesso, a paciência também.

Nada é eterno…

Aos que por aqui passaram obrigada.

Até…

Que tenham muitos e excelentes anos




Ana