27/11/08

Há doutores e doutores. Há os doutores médicos, os doutores diplomados, os doutores stôres e até há os doutores comprados. Este será sem dúvida o país de mais doutores. Há doutores para tudo, gosto a gosto, conveniência a conveniência, interesse a interesse. A quem não é doutor restam-lhe duas opções: ou é engenheiro e tem a vida garantida seja na construção que não constrói, na fabricação que não fabrica, na agricultura que não cultiva ou mesmo na governação que não governa; ou então, é apenas o Manel, o Toino, a Maria ou a São que não são nada, mas no fundo são os únicos que são.

26/11/08

pintura de AA

Puxou-a contra si com a mesma sofreguidão com que se sacia a sede. Agarrou-a com a mesma avidez com que se mata a fome. Tomou-a com a mesma ambição com que se ganha uma batalha.

Percorreu-lhe o corpo com mãos de veludo, em beijos demorados, sussurros escaldantes, olhar obsceno.

Debaixo da água escaldante, sobre os lençóis de pano macio, no chão de pedra gelada, de corpos escorregadios deixaram-se possuir.

Sem nome, nem morada, sem um número de telemóvel, nem um singelo despedir, apenas o odor de dois corpos a subsistir à eternidade. Foram-se como se vieram.

25/11/08


Já não era ódio nem rancor. Não era desejo nem volúpia.

Era tão- somente, a impotente frustração que lhe comprimia a alma e lhe escoava o corpo, como tela de pintor em dia de tempestade.

Já não pensava, não sofria, não lamentava...apenas se desintegrava em colorida paleta de cor que nem anjo assexuado.