18/05/10

concentração e abstração

Este post deixou-me a pensar. Na verdade, deparo-me frequentemente com observações referentes a esse assunto e inclusive com alguns embaraços. Se por um lado me questionam muitas vezes “como consegues?” por outro também me gritam aos ouvidos “caramba já te chamei uma dúzia de vezes!”

Hoje, ao pensar nisso, creio que, como uma boa parte das coisas da vida, se resume a uma questão de necessidade, treino e/ou circunstância.

Quando desde pequenos somos obrigados a estudar enquanto o pai dá explicações a algum colega, o irmão está na hora da brincadeira e a mãe resolveu tocar piano, não temos outro remédio senão tentarmos concentrar-nos.

Quando se sai de casa aos 15 anos para prosseguir estudos e se passa a viver repetidamente em casas cheias de jovens que decidem ver TV, ouvir música, receber amigos ou fazer a party precisamente na véspera do nosso teste de matemática, resta-nos recorrer à nossa capacidade de abstracção (ou reprovar o ano).

Quando o trabalho que escolhemos nos exige aprender a trabalhar em grupo e com o grupo, que é ainda mais difícil. E esse grupo tem ideias, experiências, conceitos e visões tão diferentes das nossas não temos outro remédio senão ouvi-los, repensar, ajustar, acordar.

Quando se decide trabalhar, estudar, ser mãe e mulher, descobre-se que das duas uma, ou aprendemos a fazer mais que uma coisa ao mesmo tempo ou obrigamos os dias a terem mais que 24 horas. Como a segunda hipótese é mais complicada, optamos pela primeira e habituamo-nos a fazer o jantar enquanto conversamos com o puto sobre o dia de escola, ajudamos o pai numa tradução, corrigimos um trabalho, ligamos a máquina da loiça, estendemos a roupa, and soo n.

Quando não queremos desistir do que gostamos de fazer, apesar de isso implicar trabalhar com um grupo de malucos que ouvem uma música ainda mais maluca, cantam e conversam ou desatam a discutir no meio do nada e mais umas quantas coisas que nem me atrevo a descrever, temos de treinar a nossa capacidade de concentração.

E é então que concluímos que a nossa capacidade de realizar mais que uma coisa ao mesmo tempo decorre da necessidade e do treino a que as circunstâncias nos obrigaram, tal como a nossa capacidade de concentração. É nesse momento que também descobrimos que a capacidade de concentração está associada à de abstracção e que, se por um lado conseguimos estudar ou trabalhar sem sequer repararmos que à nossa volta chovem canivetes, por outro lado, somos por vezes despertos por alguém que nos abana gritando-nos aos ouvidos “caramba já te chamei um milhão de vezes!”


é uma questão de treino e necessidade Ana :)

20 comentários:

Ana disse...

E eu concordo em absoluto contigo. Aliás, pegando nesta tua justificação, consigo também justificar tudo o que disse em relação a mim.
Toda a vida vivi numa casa habitada por 3 pessoas (contando comigo) que, apesar de muito unidas, sempre gostaram muito de privacidade e sossego. Cada um no seu canto com os seus hábitos. E talvez por isso mesmo eu me tenha habituado tanto ao "silêncio", ao ponto de não conseguir funcionar muito bem no meio de "ruído".
Hoje, morando sozinha, esse silêncio deixou de ser um hábito para se tornar num verdadeiro vício, do qual eu dependo para respirar a cada final de dia.

Sim, é uma questão de treino e necessidade. Talvez um dia eu seja confrontada com ambos. Ou não.

beijos

Fiona disse...

Bem, e essa capacidade de concentração vs abstracção é exactamente aquilo de que eu necessito neste momento.

Paulo disse...

Tu chamaste-nos malucos? E tu o que és? Mais maluca que nós todos juntos!

Beijo

Cris disse...

Não só fazes mil coisas ao mesmo tempo, como mantens conversa em 3 ou 4 línguas diferentes enquanto fazes essas mil coisas.

Depois nós é que somos malucos?

Vai lá ver os ficheiros senão o Paulo não se cala.

escarlate.due disse...

ANA, talvez ou talvez não :)

beijos

escarlate.due disse...

treina, SANDRA, treina :)

escarlate.due disse...

e se fosses trabalhar PAULO, que já devolvi os files?! :P

beijo

escarlate.due disse...

isso também foi uma questão de necessidade e treino CRIS :)

já enviei mas ele alguma vez se cala??!!! :P

Paulo disse...

Já estou a trabalhar chefas :-)

Nilson Barcelli disse...

Estou de acordo contigo, mas essas capacidades não se desenvolvem apenas com treino. É necessário possuir características para o efeito.
Tal como para o contrário, isto é, fazer uma coisa sem perder o que se passa à nossa volta. E isto é ainda mais difícil...
Querida amiga, um beijo.

CybeRider disse...

A concentração bem aplicada é o estado de graça da hipnose. Pode estar a casa a vir abaixo...

"Anda cá!"
(Desculpa?...)

O pior é que as pessoas zangam-se! Mas só as que não entendem.

Multitasking para mim só quando o stress não me permite o alívio, ou quando o tema em mãos não é muito interessante. Diz a biologia porém que deveríamos conseguir reagir, pelo instinto de sobrevivência. Chego a ter dúvidas...

Por isso se alguém puder mandar um leão ou assim, fico desde já agradecido.

(Não, Escarlate, um desses pequeninos não serve...)

escarlate.due disse...

engraçadinho PAULO :)

escarlate.due disse...

também é verdade NILSON, mas acho que a necessidade nos obriga muitas vezes a deixar de lado as características e fazermos por conseguir

escarlate.due disse...

é verdade CYBER, mas tenho sorte, o junior é tão parecido comigo (e está tão pouco tempo) que dificilmente nos chateamos e os colegas... bhaaa somos uma equipa :)

(2 gatos não servem mesmo??? são puros felinos! lol)

escarlate.stanza disse...

A teoria que os homens só fazem uma coisa de cada vez é falsa!
Eu tomo duche ao mesmo tempo que canto!

Vício disse...

então talvez te ambientasses aqui onde trabalho!
nem imaginas o bom que é trabalhar num escritório de uma oficina com isolamento acústico deficiente (se tiver algum) e passar o dia a ouvir marteladas e motores a trabalhar...

escarlate.due disse...

e não só STANZA e não só :)

beijoooooo

escarlate.due disse...

nunca se sabe VICIO talvez me adaptasse :)

Benfiquista disse...

A tactica é concentrar no tintol para depois abstrair de tudo o resto lolol

Mais a sério, eu creio que não conseguimos nos concentrar em dois assuntos ao mesmo tempo quando o segundo assunto é algo que achamos realmente chato, isso creio ser normal quando não há um chamariz de qualquer espécie que nos faça dar atenção ao que nos dizem....

Por esta lógica toda a gente é interesseira, o que não é minimamente o que sucede, mas a meu ver é isso que se passa normalmente...

Ja agora, obrigado pelas visitas, eu já nao me dá muita paciencia para visitas ou mesmo para escrever, é sempre um entusiasmo ver que alguém ainda segue o blog :)

escarlate.due disse...

oh JOÃO quando é mesmo chato acho que não conseguimos concentra-nos nem no segundo nem no primeiro nem em nenhum :) mas eu não falei em concentração em coisas chatas, só referi que realizo algumas tarefas (gosto de todas elas) em simultâneo e que também consigo concentrar-me facilmente no que faço abstraindo-me do que se passa em redor.


(não agradeças, quando se tem de passar muito tempo no pc e horas demais a trabalhar, faz bem distrair um bocado regularmente, até porque também ajuda depois à tal concentração, ao contrário do que muita gente pensa) :)