13/03/10

seguidora...

Passou-lhe para a mão o cartão. Deu-lhe a chave do carro que não era um carrão e da casa que não era casarão. E pediu-lhe que escrevesse a estória lado a lado, mão na mão, no mesmo espaço, sem que fosse ilusão.

Doou-lhe o coração enquanto lhe oferecia a vida e o corpo nu para cantarem a mesma canção, tocarem os mesmos acordes enquanto os lábios roçavam, as mãos exploravam, as coxas se cruzavam e o sexo se unia.


Doou. Doou-se


Abriu-lhe a porta do íntimo, do mais recôndito de si e contou-lhe segredos, um a um, baixinho, ao ouvido. Sorriu-lhe e sorriu-se como quem sorri para o céu em noite de luar. Deixando-se penetrar…


Mas o vento soprou forte e frio. O mar agitou-se. O barco balançou. E quase virou… Molhou-se o cartão. Devolveu-se a chave do carro e daquele que não era um casarão. Extraviou-se a do coração. E a pena que escrevia a história caiu ao chão, desfeita a ilusão. Abraçou-se o turbilhão da inundação.


Tudo deitado fora


Quase virou. Quase se afogou. Quase afundou. Quase…


O cartão já não era lustroso como antes. O carro já não rolava veloz. Na casa já não se ouviam os mesmos sons. No espaço já não escrevia a mesma pena a quatro mãos. O corpo já não se movia ao ritmo da canção. O coração já não batia com a mesma entrega de então. A estória já não se repetia. Não se repete. Nunca nada se repete.

E quando acordou pairava no ar o odor do mesmo perfume, sempre o mesmo, entrelaçado com o cheiro fedorento da ferida infectada a tentar sarar. No tempo…

Afogou-se nos lençóis para não se afogar no mar que a tempestade revolvera. Pela frecha sumida da janela viu o tímido raio de sol a querer penetrar. O sorriso a despontar numa lágrima a secar. De vez em quando ainda ouvia o vento a soprar. Forte, tão forte que se sentia quebrar. Trancou o ferrolho da porta para não o deixar entrar. Sufocar. Matar. Mas deixou-se levar… devagar… muito devagar… muitooo muiiitto devagar… a navegar naquele mar, fazendo por se equilibrar num barco a baloiçar…



Seguindo-o sem fundear



ainda




4 comentários:

Manuel Veiga disse...

uma bela "viagem". de erotismo elegante e fremente.

mereces todos os elogios...

beijos

Otário Tevez disse...

Passando para lhe informar que o blog EspelhoSentido.blogspot.com tem nova imagem, esperando que você se reflicta nela, aqui deixo esta informação, sendo a soube visitante no seu início. Boa semana!

Ana disse...

Ainda
:-)
Beijos

joshua disse...

Belo trabalho de sugestão. Adorei. Beijos.


PALAVROSSAVRVS REX