20/03/10

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Soa-lhe ao ouvido o refinado som da flauta num solo adocicado, tranquilo, que lhe envolve o cérebro e a faz fechar os olhos num sonho de desejo. Neles depositou um beijo suave que acabou a roçar-lhe os lábios num toque de concertina.

Afaga-lhe a face com a delicadeza com que se afaga a harpa. Os dedos descendo-lhe pelo corpo num dedilhar de guitarra, com refinados acordes de piano. Sente a melodia de violinos percorrerem-lhe a medula no arrepio que as teclas de celeste provocam na pele nua. O fogo da cítara que lhe aquece o âmago.

Membros entrelaçam-se como notas de lira, cuíca, contrabaixos. Nas coxas sente o agudo e o grave de carrilhões que se misturam com o dedilhado do bandolim, superado pelas trompetas, clarinetes, flautins, que lhe sopram ao ouvido fortes, intensos. Como uma dança fluida, cuja condução se satisfaz na combinação de bailarinos.

Entra em cena a tuba, de rompante, enquanto os dedos se cravam como em teclas de cravo, nas costas despidas. Movimentam-se ao som do tamborim, do tarol, da pandeireta. Ecoam as notas do berrante, do bombardino, como que a bombardear-lhes o corpo. Excitação. Toca-lhe a melodia firme do órgão. Eleva-se no ar a batida do coração como tambor. Numa explosão de sinos tubulares que lhes ecoam na mente. Uma espiral de notas espalha-se no ar. Transborda-lhe da alma o la do clarone. Vagueiam no arfar de baixos e contrabaixos. No ritmado de corpos dançantes. E um energético solo de saxofone inunda-lhe o interior. Saído da penumbra um violoncelo regressa ao palco. Solfejo a solfejo. Semente a semente. Gota a gota. Num prazer orquestral.

Repousam abraçados ao tilintar de ferrinhos. O compassado xilofone. As suaves teclas do clavicórdio que lhe percorrem a pele transpirada. Extingue-se o som de tenor que momentos antes sobressaíra da musicalidade de fundo e murmura agora a voz aveludada do barítono onde retornam as doces palavras de ternura. Sobre a pele os dedos suaves dedilham a harpa. No ouvido ainda a flauta. Na boca, o maestro, deposita-lhe o beijo que sela a harmonia. Adormecem melodiosamente juntos no forte abraço que encerra a sinfonia.

Esconde-se na memória o mais belo concerto de vida.




3 anos...

ontem

hoje

e amanhã

até sempre...

"Amar, na simplicidade do teu sorriso, na humidade dos teus beijos, no veludo do teu corpo, na doçura da tua voz, na sabedoria da tua mente, na tranquilidade da tua segurança, na paixão do que és!"



6 comentários:

Paulo disse...

O concerto que vos mantém imortais :-)

Ana disse...

Lindo!

beijos amiga

Vanda Paz disse...

Excelente texto!

Beijo

(adoraria se pudesses ir, vai ser uma tarde muito especial para mim)

Anónimo disse...

Excelente texto.

Melódico, intenso, sensual. Muito bom.

Você continua a escrever com imensa emoção.

Alguma dificuldade em ler o último parágrafo devia ampliá-lo.

Abraço
Z

Manuel Veiga disse...

concerto em todos os timbres e acordes.

excelente.

beijos

C Valente disse...

MUITO BELO
sAUDAÇÕES AMIGAS E BOOM FIM DE SEMANA