01/01/10

l'inizio...

“Ah um novo ano… e?... é mais um. Só mais um? Talvez nem chegue a ser mais um… que importa? Já foram tantos…

Sentou-se placidamente no cadeirão (naquele cadeirão…). Passou revista ao livro de cheques - nada de fortunas, à sala acolhedora - nada de pomposo, à pele gasta - nada de beleza. Aos sonhos, aos pesadelos, às cicatrizes, ao som dos trovões, da chuva a cair e do chilrear dos pássaros naquela árvore, a tal. Passou revista às estradas percorridas. Às águas onde nadou, ao ar que respirou e à vida consumida.

Sentou-se paulatinamente no cadeirão (ah abençoado cadeirão…). Passou revista aos amores e desamores. O amor. Essa coisa indefinida, mentida, desprotegida, iludida ou fingida. Passou revista aos juramentos, aos amo-te ditos e repetidos, perdidos em difusas palavras, ocas, efémeras, fortuitas, sem sentido, sem a razão de uma qualquer mera discussão.

Sentou-se calmamente no cadeirão (baloiça o cadeirão…). Como quem baloiça promessas de eterno. Nada é eterno. Nada é suficientemente eterno nem na vida nem além. Nem o corpo, nem a memória, nem os sonhos, nem pesadelos, nem nós e nem os nós apertados, nem amores nem desamores. Nem mesmo o regresso de quem torna à casa abandonada que ainda fede a sedução e magoa o coração de quem nela poisa a vista. Mas insiste, não desiste e persiste, porque é mais que a sua vida, mais forte que o tal amor (ou desamor…?) e sem ela não vive embora negue. Invertido. Numa ténue negação porque nada é eterno. Nem a mágoa da partida. Nem armadura fendida. Nada é eterno. Por isso se programa um post mas não a vida que não é feita de poesia.

Agarra o cadeirão (o velho cadeirão…) como quem estanca o sangue que lhe corre nas veias, que lhe queima o coração, que lhe enche de raiva o peito… em solidão… desilusão… que se fique por aí então, na sua terna ilusão, na sua vasta emoção, na sua ignóbil ambição de veneração. Que outrem parte, como quem parte a comoção. Porque não é A como a, nem pura nem perfeita, nem superior, nem estampa, nem feita por medida. Nem comedida. Porque nem é A de a tal, de aquela ou a outra… ou a única… não é nada (mas é tudo!). Porque nada é eterno, nem promessas nem juramentos, nem a alma nem o corpo, nem as camas que percorreu nem as que ambicionou, nem os doces que provou, nem os ninhos onde regressa como forma de chamamento ou de preenchimento do ego. Nem as palavras encantadas, nem versos nem poemas, nem amores e desamores, nem a magia que se esvai na soberba altivez que condena e ordena provocante. Nem o encanto atirado para o canto, nem o canto do rio, nem o silêncio do lago, nem um sublime orgasmo.

Balanceia no cadeirão (maldito cadeirão…) como quem baloiça a vida com a doce sensação de ainda respirar o ar, de ainda ver o mar, de ainda bailar, quando tapa os ouvidos, quando fecha os olhos, quando se deixa ir e abafa na alma o pesar, enquanto o corpo num esgar se dissipa contorcido, retorcido, sem sentido. Proibido.

Abandona o cadeirão (o mesmo cadeirão…) como quem abandona a mágoa. Como quem se atira ao dia, como quem agarra a noite. Como quem larga um ano. Porque tudo se repete. E repete e repete. E nada é eterno. Nada. Nem o pássaro, nem o trovão, nem a chuva a cair. Nem o rio, nem o mar e nem lago. Nem o ar que se respira. Nem mentira comprida. Nem verdade desmentida. Nem a história (ou é estória?...) antiga. Nem o que se quer só porque se não tem. Nem poema de aniversário oferecido a alguém. Nem a ficção em que vive. Nem o leito onde se dorme por engano, embriaguês ou vingança. Nem a aberração da represália. Nem a ameaça de traição. Nem sua concretização. Nem a vida inventada que fantasia de falsa adoração. Nem o dia e nem a noite. Nem o trabalho duma vida, nem o ócio que nos satura. Nem labor jogado fora. Nem a paz após a guerra. Nem a ponta do giz, nem o quadro onde risca, nem aquilo que escreve. Nem o livro que se lê, nem o filme que se vê, nem o bailado que se dança. Nem palavra nem silêncio. Nem fortuna, nem estampa. E nem beleza nem fama. Nem orgulho desmedido. Nem o esgar da dor. Nem o corpo. Nem o riso, nem a lágrima. Nem o grito. Nem a raiva. Nem o sorriso de menino. Nem memória perdida. Nem um porto de abrigo. Nem o Sol que nos queima, nem a lua escondida. Nem infância nem velhice. Nem o sono nem o sonho. Nem a magia dum orgasmo. Nem o feitiço do amor. Nem o encanto do momento. Nem o velho cadeirão…

nem o ano…

nem o tempo…

e nem a vida…”

fine





Fez um ano que criei este blogue, à semelhança de outros não importa o porquê.

Valeu…

Agora o tempo é escasso e, confesso, a paciência também.

Nada é eterno…

Aos que por aqui passaram obrigada.

Até…

Que tenham muitos e excelentes anos




Ana



18 comentários:

Maria disse...

Que 2010 te traga tempo e disposição para continuares aqui. E tudo o resto que desejo aos amigos, saúde e paz.

Um beijo from me

António Sabão disse...

Um 2010 cheio de coisas boas!

Beijinhos

bjecas disse...

Bom ano gaiata!!!

Quando comprares uma cadeira de baloiço, apita.

Jocas pá

\m/

shark disse...

Atão parabéns e um excelente 2010 (o ano do contacto).

Paulo disse...

Sem palavras!
Saiam-lhe da frente ;-)

Miúda estás a precisar é de um bom ano em Itália ;-)

Até logo, esmera-te no jantar que o pessoal vai esganado. E nada de servir comida de gato ;-)

Sofá Amarelo disse...

Allo, não tás a dizer que vais um fazer um intervalo, não???

Um beijinho grande! Um BOM ANO!!!

Vanda Paz disse...

Amiga, excelente 2010 por aqui ou por aí...

abraço enorme

antónio paiva disse...

...

até já!
até logo!
até amanhã!

até, até, até...

Bom Ano!

beijo

Marquês de Sade disse...

Desejo-te um 2010 cheio de coisinhas boas :)
Bjinho

Manuel Veiga disse...

beijo

tudo de bom para ti

Ana disse...

Um excelente ano para ti!

E espero continuar a ver-te por aqui ou por aí...:-)

beijooo

rascunhos disse...

...começos...e recomeços...

somos nós ...é a vida !!!

é bom lembrar isso : nada é eterno mesmo !

Adorei o texto.

Um bom 2010 para ti.

beijo

Nanny disse...

Até...

...já...

...até logo...

...até sempre!

Qualquer dia abres outro... quando te apetecer ;-)

Beijiiiiiiiiiiiiiiinhoooos

Nanny disse...

E bolo de chocolate... não te apetece?

Ando com saudades... ;-)

carpe vitam! disse...

Muitos Parabéns pelo Blog, quando decidires voltar, avisa, ok? :-)

eu disse...

Um bom 2010.
É bom que continue por aqui, apareça.

calamity jane disse...

"Nada é suficientemente eterno nem na vida nem além".
Que posso eu dizer-te? Começo e recomeço o meu comentário mas nada é suficientemente eterno para comentar um texto destes. Esse sim, eterno como o são - têm de ser - os textos iluminados. Por isso sei q voltarás. Enquanto por cá andares. Porque um dom desses é sinal de possuir em si uma parcela de eternidade

Å®t Øf £övë disse...

Escarlate,
Vou sentar-me no cadeirão e esperar tranquilamente pelo novo renascer.
Beijinhos.