Saiu de casa pela manhã, bem cedo, cabisbaixo, de lágrima a pender-lhe no olhar. Não queria. Decididamente, não era o que queria fazer. Mas era isto o que lhe restava fazer, numa vida tantas vezes a parecer injusta, cruel…
Desceu o elevador, colocou-o cuidadosamente, no banco traseiro e entrou no carro. Atribuiu ao cinto apertado o sufoco que sentia no peito e à chuva a visão enevoada.
O “adeus” quase inaudível que proferiu abafou-lhe o “perdoa-me” que não gritou, enquanto lhe fazia uma última festa, o último carinho, o derradeiro abraço. “Gosto tanto de ti e deixas tanto comigo”, sussurrou… e do outro lado, respondeu-lhe silenciosamente, o olhar mais grato que alguma vez viu…
Deixou a clínica veterinária cem anos mais velho e duzentos mais pobre… Decididamente não queria tê-lo feito, mas era o que tinha de fazer, porque o amava! Não, não era um assassino!
…
Na outra ponta da cidade, ela saiu de casa ao raiar do dia. Mecanicamente desceu o elevador, entrou sozinha no carro e percorreu a estrada atolada de carros, sentindo-se num deserto imenso. Entrou no grande edifício e subiu ao 4º andar, pelas escadas para ganhar coragem. Entrou na sala e interiormente agradeceu a penumbra que lhe disfarçava a lágrima. Olhou-o. Continuava prostrado sobre a cama, anestesiado para não sentir a dor. Já não falava, não comia, não sentia mais que aquele tormento que se arrastava como punição de um pecado que desconhecia. Mas o coração batia, força da máquina que o obrigava a vegetar. Quanto tempo? Quanto mais tempo iria viver? Viver? E num ímpeto, teve vontade de aceder ao que tantas vezes lhe pedira.
Deixou o hospital ao fim do dia. Deixou-o entregue àquele olhar suplicante que a matava a ela também. Decididamente, não queria deixá-lo continuar mas, curiosamente, só aos animais era possível interromper tamanho sofrimento e ela não era uma assasina!
...
Amava tanto a vida, que mais não lhe restava que a eutanásia!
um enorme beijo para ti...
50 comentários:
Sacana q m fizeste chorar
(desculpa, não te queria chamar nomes, mas amigo de meu amigo...)
Entendo-te! Passei pelo mesmo...
bjs
E que posso eu dizer-te senão que me estragas com mimos?
Cá chegou.
És uma miúda porreira, pá.
Credo! Duas mágoas que todos têm medo de enfrentar, mantendo a esperança que tal nunca lhes aconteça...
Infelizmente, às vezes, acontece...
Beijoca!
Dói muito...
Jinho de reconforto...
Tu seres a favor é que não entendo mas admiro-te por isso miúda.
bjs
Também tenho um animal de estimação...
Beijo Escarlate :)
Histórias comoventes que se cruzam com os nossos dias e se misturam com os nossos sentimentos ao ponto de nos fazer até... chorar.
Gostei muito!
Beijo
Porque a vida é para ser vivida dignamente... e quando o nosso próprio corpo nos aprisiona, a nossa alma suplica por liberdade...
(Às vezes gostava de não entender tão bem estas palavras... de não as sentir na alma...)
Será que é crime deixar alguém morrer... Será que é crime dar a um ser humano a dignidade através da morte?
Se os elevadores só subissem...
Custa muito perder os nossos amiguinhos que já fazem parte da família. Tenho dois cães actualmente e sempre tive animais desde que me lembro. Sei dar valor ao que estás a passar!
Jinhos :)
O Texto é um pouco estranho. Tem algumas falhas estilísticas, passo a exemplar: «entrou sozinha no carro e percorreu a estrada atolada de carros», em que a repetição de «carros» funciona mal, para dizer que funciona.
No entanto, do que tenho lido dentro do género na blogo, não está nada mal; perturbante qb. Parabéns.
Qual é o ponto em que fazemos o lugar de Deus?
Morrer por fora, chorando morrer por dentro?
Ou morrer por dentro chorando morrer por fora......
Quero que me desliguem quando o último olhar apaixonado estiver prestes a desligar da couve (de mim)...
Mas será que quando desligarem já só tenho esse sorriso?
Enquanto há amor à esperança....
Porque a vida não vegeta (ou não devia vegetar)
Ou será que devia??
(Como me tocas escarlate)
Beijo
bem vinda Calamity, com ou sem nomes
beijo, António
já disseste tudo Shark.
enorme beijo para ti
acontecem Teté... ambas...
beijoca
posso reencaminhar o teu conforto para quem precisa dele, Jota?
nem eu tento explicar-te, Paulo
beijos
também tenho dois, Dante...
beijo
histórias que são mais que histórias, Impulsos.
beijo
às vezes também gostava de não entender... TM
se... OsBandalhos
OnlyMe posso reencaminhar as tuas palavras para alguém que precisa delas?
jinhos
aqui tudo é um pouco estranho a começar pela autora, Lúcio.
grata pelo seu "exemplar" tem razão a repetição pode soar mal. mas sabe, não sou e não pretendo ser escritora, os textos aqui inscritos são elaborados nos pequenos intervalos daquele que é o meu trabalho e pretendem apenas transmitir emoções, descrever sentires, discutir temas ou simplesmente brincar sem qualquer intenção literária. pelo que aconselho-o a ler muito mais na "blogo" onde encontrará o que procura.
obrigada pelo seu comentário
não, Nuno, não devia! tenho a certeza que não devia! e nem sempre a esperança basta...
o toque é reciproco e tu sabes porquê.
beijo
Fiquei com um nó na garganta!
Só de pensar que um dia, posso ter de passar por essa situação!
Seja com um animal ,seja com um ser humano!
Eu neste momento ,não sei como está a lei portuguesa, em relação á eutanásia!Mas parece-me que só se pode fazer isso ,se o doente, tiver deixado uma
autorização por escrito para isso!
Bjs
legislar sobre isso não é fácil, Miriam, tal como não é fácil a decisão a ser tomada
beijo
...
Abraço muito forte
posso reencaminhar esse abraço, Dias?
Aqui na aldeia usamos um saco plástico e vamos ao rio, nada dessas coisas "fancies" de veterinários da cidade!
lol
ai qu'ela me bai bater!
beijo doce!
bater não chega, Sam, mas passar-te com um camião por cima, já não será má ideia!!
tu não consegues, pois não, Sam?!
doce beijo puto
Foi dos poucos textos que me emocionou...
... Beijinhos
Sei muito bem do que falas.
Felizmente, ninguém meu.
Jinhos pá
\m/
Temho uma Micas com 14 anos... já mal vê e não ouve nada, mas continua a ser a alegria da casa.
Nem quero imaginar que esse dia vai chegar!
Um grande abraço e um beijo enorme para ti.
uma escolha entre morrer e ir morrendo!
era tudo uma questão de tempo e quanto mais durasse, mais durava também o sofrimento.
é das situações que mais me emociona, Saltinho...
Se me permitires (e porque sei que simpaticamente te disponibilizas sempre para uma ajudinha) peço o teu contributo para responder à Miriam, porque a tua resposta será muito mais fiavel que a minha.
beijinhos
posso reencaminhar esse beijinho em forma de abraço para alguém que precisa, Pedro?
pois sabes...
mas tomara que nunca o saibas...
beijo, Bjecas
não penes MFC.
o beijo e o abraço posso reencaminhar?
é isso Vicio, não é 1 escolha entre vida e morte mas entre morte e morte
no comments
coisas da vida!
ABC & BJS :D
pois...
pois é aquela palavra que serve para tudo, Francis...
sem dúvida, Miguel, coisas da vida...
Só quem os tem!
b&abraços
quem os tem e quem vive... Inês
A opção em causa dói muito por dentro mas dói mais termos que assistir ao sofrimento constante de alguém - 4 ou 2 pernas (ou patas, como preferirem...) Infelizmente, já passámos por uma situação assim e sabemos o quão angustiante se torna a decisão...Vale o peso de uma vida já celebrada e de todas as recordações que ficam.
Choramos ao ler...Obrigada por partilhar.
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