06/03/10

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Olhou para trás… na calma possível que atravessa o nervosismo…

Não se penalizava pelos erros, não se arrependia dos caminhos, não se sentia exuberante pelos sucessos, nem tão pouco pelas alegrias, nem sequer chorava as tristezas ou se compadecia pelas desilusões. Permanecia imóvel como quem encarna uma estátua.

Olhou para trás como quem se pergunta se valeu a pena. Indagou a resposta no seio do seu interior. No mais recôndito espaço de si. Como quem se evapora de todo o exterior. Como quem se volatiliza do próprio ser.

Não importava quanto tempo teria sido. Quanto tempo poderia ter sido. Quanto tempo ainda seria. Bastava-lhe sentir-se dentro de si na possível calma do nervosismo.

Não negou as dúvidas. Nem os medos. Nem os anseios. Não negou a excitação inundante. Nem a dor penetrante. Não se consumiu em divagações.

Limitou-se a olhar. Para trás. Para a frente. Para si.

Escolhas. O mundo inteiro se resumia a escolhas. A vida inteira se resumia a escolhas. Escolhas… de vida, de caminhos, de pessoas, de sonhos, de lugares. De embarcações perdidas em mares. De casas construídas em colinas. De réstias de respiração suspensa no ar enquanto olhava para trás na certeza da hesitação de querer ir em frente… ou não…

E por um momento, um ínfimo momento, recusou olhar para trás e concentrou-se em olhar para dentro… na possível tranquilidade que emana da ansiedade…




sabendo que se olhasse para trás e pudesse escolher...

tudo seria exactamente

igual



3 comentários:

Nanny disse...

E respirar fundo...?

E deixar rolar...?

;-)

Beijoooooooooooos

Maria disse...

O que torna a vida encantadora de ser vivida é a permanente escolha que temos de fazer. Olhar para trás e fazer exactamente o mesmo é bom sinal...

Um beijo para ti!!!

Manuel Veiga disse...

belíssimo texto. sereno.

prenhe de sabedoria (oriental).

gostei. mesmo muito.

beijos