"Quando pela primeira vez entrou na sala sentia uma estranha tranquilidade, ainda que as ideias não lhe parecessem firmes e a voz lhe soasse trémula. Não obstante entrou com determinação, confiante que aquela era a decisão acertada. Podia não ser mas acreditava que sim e acreditar era quanto bastava no momento. Ou não seria…
A pouco e pouco as luzes foram-se tornando suaves, até desaparecerem por completo qual lua adormecida em final de noite. Os sons atenuaram-se como cânticos longínquos e deixou-se levar como numa embriaguez, pela sensação de leveza, levitando num espaço e num tempo exclusivamente seu. Ou de ninguém...
Quando acordou nada lhe parecia real, reconhecível, familiar, nem o seu próprio corpo, nem o seu ser, nem o seu eu. Do sonho restara apenas um vácuo, do antes não sobrara nada para além de um odor a perfume, uma imagem difusa, um paladar amargo, uma textura desconhecida, um som abafado. E o medo, o terror que não tivera ao entrar, sentia-o agora ao acordar. E a dúvida que antes atormentara, estava agora esquecida ou substituída pelo mar de interrogações que lhe assolavam um cérebro confuso. Desordenado…
Restava-lhe juntar os cacos, arrumar a casa e preencher os espaços vazios. Ou a memória…"
19 comentários:
E já agora lavar a loiça e despejar os cinzeiros que aquilo tá uma porcaria. lolololololol
Bom texto como sempre :D
Jokas :)
"É antes do ópio que a minha alma é doente" Fernando Pessoa
Faço minhas as palavras do Dante! ;)
Beijinhos
A voz lhe suasse trémula?
As aspas servem para afirmar que era um sonho dentro do sonho? O hiato entre o adormecer com certezas e acordar com dúvidas?
Mas gostei do texto e da pintura do António! :)
Beijocas!
isso era o tipo de coisa impossivel de fazer naquele momento Dante, por desconhecimento total
jokas
Fernando Pessoa é uma excelente referência, Osbandalhos
nesse caso Pedro, lê a resposta ao comentário dele :P
beijinhos
obrigada Tete, corrigido! :)
era bom que tivesse sido apenas um sonho mas... desculpa, não pretendo dizer masi do que ali está.
a pintura é melhor que o texto, sem dúvida!
beijocas
"masi" deveria ser "mais" e hoje não acerto uma, fruto de estar a trabalhar desde ontem, irra
Bom texto como sempre! :)
Esse tal de António agora deu em "copista"? heheheh
beijinhos
Os teus textos são fantásticos =)
Para quando uma colectânea? =)***
é melhor perguntares-lhe a ele António :P
beijinhos
oh Atlantys a colectânea está editada na minha vida, é quanto basta, não sou escritora
beijinhos
Lindíssimo o teu texto. Hei-de voltar mais vezes!
bjs
volta quando te apetecer, Pepita :)
bjs
A memória preenche-se quando se arrumam as ideias. Também elas - as ideias - têm que estar organizadas e ter o seu próprio espaço - as ideias costumam ser rebeldes, são difíceis de domar, mas elas são o primeiro passo para... descobrir o luar...
ou não Sofá, ou não...
se fosse assim tão simples a memória...
Esse teu 'disco rígido'...
Jinhos miúda
\m/
de vez em quando "cracha", não é, Bjecas?!
:)
Enviar um comentário