Recordo os Natais da minha infância… a Árvore de Natal, as luzinhas cintilantes, a azáfama da decoração, os doces… ah os deliciosos doces com que me lambuzava… a mesa grande, a ansiedade das prendinhas escrupulosamente escondidas que esperávamos estar de acordo com a carta enviada… sim claro que havia uma carta, havia sempre uma carta ao famoso Pai Natal que viria naquela noite, enquanto dormíamos deixaria as renas a tomar conta do trenó e desceria pela chaminé com o saco vermelho carregadinho de embrulhos que depositaria nos sapatinhos…
Depois é claro que havia algumas desilusões porque não se pode ter tudo na vida e lá se desembrulhavam os fascínios, as coisas desejadas e mais umas quantas pirosices. Mas era Natal e nós, os putos, delirávamos.
Agora que esse tempo se foi, agora que já estou crescidinha demais e cá em casa, aquele que já foi puto, também já cresceu, a árvore de natal encolheu, as gatas atiram-se às bolas com mais gana que jogadores, os doces continuamos a ir comê-los a casa dos progenitores mas o filhote já não nos faz passar do carreto por abrir as janelas todas e ficar um frio do caraças “oh mãe, é que se deixarmos tudo fechado como é que o Pai Natal entra?”, o mano já não precisa de me atazanar o juízo antes de nos deitarmos porque “chega para lá o teu sapato senão o Pai Natal não vê o meu!!” e nas vésperas escrevemos no blog em vez de enviarmos cartinhas que obviamente o chefe da estação de correios não lê.
Mas há uma coisa que se mantém, que não se evaporou no tempo, não deixa de se repetir ano após ano: o pedido de natal!
E por isso, só por isso, andei para aqui a moer o juízo sobre o que haveria de pedir este ano… foi então que se fez luz mais brilhante que a da minúscula árvore de natal que me enfeita a sala desde ontem porque não tive tempo mais cedo. E decidi. Decidi o que pedir este ano. Não uma coisa para mim (afinal a época é de generosidade e bla bla bla) e espero sinceramente que o meu pedido seja concedido.
PAI NATAL,
Este ano gostava muito que não passasses noites a fio pendurado numa janela ao frio, ao vento e à chuva. Se não for possível satisfazer este pedido, então, pelo menos, não fiques pendurado pelo pescoço que nem enforcado, como aquele que vi hoje numa varanda. É que, Pai Natal, além de ser macabro, é um péssimo exemplo para os putos. Já imaginaste se algum deles resolve imitar-te quando se deparar com um par de meias em vez da Play Station ou do telemovel última geração com que para o ano irá trocar mensagens com a namorada nas aulas de matemática e ser apanhado pelo profe que se vai passar do juizo e bla bla bla???!!!!
Não deixo beijinhos porque não arrisco ser contagiada pela gripe A e passar a noite a tossir para cima das filhoses ou acabar por nem ter vontade de me deliciar com sonhos.