"Quanto tempo passou?
Fui olhar-te, recordar-te, agradecer-te, admirar-te; lá, na espuma do mar, nas ondas batidas, na água salgada, onde tu gostavas de viver.
Foi há tanto tempo, não foi?!
Tinhas aquelas ideias malucas que ninguém entendia, aquela forma peculiar de ver o mundo, aquele olhar mais longínquo do que o nosso e um espírito indestrutível.
Teve consequências?
Teve! Foi confuso, foi duro, foi difícil, foi injusto!
Depois?
Depois naquele dia escuro solarengo, veio a esperança, o sonho e a nossa liberdade.
Perdurou?
Não tanto quanto imaginávamos e desejávamos… mas posso, pelo menos, estar aqui a falar contigo… sem medo, sem pensar no que vai acontecer depois, sem recear quem vem invadir a minha casa.
Foi duro?
Foi! Mas não lamento nem um milímetro daquele sofrimento porque ele me recorda o teu corpo machucado, as tuas feridas, as marcas; mas com ele recordo também a tua força, a tua persistência, a tua cabeça erguida, sempre, o teu sorriso, a tua vontade indomável, a tua voz doce e o teu olhar firme.
Sabes?...
A tua história passou de boca em boca aos nossos filhos e eles sabem-na de cor e repetem-na e vivem-na, com a mesma intensidade que nós. Há homens como tu que se transformam em ídolos e nunca morrem e se mantém para orientar a nossa vida.
As marcas que deixaste em mim (em nós) são tantas, mas deviam ser tão fortes, que conseguissem fazer os nossos olhos verem tão além quanto os teus…"
As histórias não se repetem, nem se eternizam, recriam-se, não é?!
Sabes... Sabes? Sabes.
É que deste-nos uma coisa nova e ainda não aprendemos a usá-la.
(mas vamos aprender, não vamos?!)