30/03/09

sexo é devagar, devagarinho, sem pressas

Olhou em redor. A multidão continuava em correria como se não houvesse amanhã. Os pombos no fio eléctrico miravam-na calmamente, como quem pensa que estará louca, gente que vive em tal aceleração. O Sol. Esse manteve-se luminoso, preguiçosamente instalado no límpido céu. Nem uma única nuvem se atreveu ameaçá-lo durante as horas que ali permaneceu.

Olhou uma vez mais o relógio. O ponteiro dos segundos veloz, tal e qual aquela gente. O dos minutos mais espaçado e o das horas confortavelmente refastelado por trás do vidrinho, mandrião como Sol. Sem urgência, que as horas não se fazem de uma só vez e o tempo não tem pressas.

Olhou a chave apertada na palma da mão. A mesma mão que a acariciara antes. Ainda teria o odor a perfume. Por ventura, ainda lhe sentiria o calor da pele ou a humidade do sexo. Na mão que a comprimira contra si quando o sangue lhe ferveu.

Olhou pela derradeira vez a janela, enquanto se diluía no meio da multidão, o relógio a marcar as doze, abriu a porta do carro, rumou ao emprego como o ponteiro das horas.

Indolente.





desenho de António (clique para ver o artista em acção)



27/03/09

manias

Há manias e manias. Há manias para tudo. Há mais ou menos manias. E manias cada um tem as suas.

Eu também tenho manias. É claro que tenho manias! Tenho a mania de dizer bom dia ao meu reflexo no espelho, todos os dias de manhã. Mania de cantar e dançar no carro quando faço percursos mais longos sozinha. E a mania (masculina) de deixar o tampo da sanita aberto. Mania de me sentar com um pé debaixo do rabo. Mania de não usar brincos e colar em simultâneo. Enfim, manias!


Uns anos atrás quando entrei na blogosfera defini regras. Afinal, em tudo (ou quase) na vida definimos regras, até sem querer ou sem nos apercebermos. Algumas eram realmente importantes e ainda hoje as mantenho, outras foram ajustadas, reformuladas, substituídas ou, simplesmente, deitadas no enorme caixote de lixo que todos nós possuímos para colocar algumas regras. É claro que algumas prevariquei e, consoante a relevância, aguentei-me à bronca com as mais ou menos consequências.

Se inicialmente estabeleci a mim própria uma regra, tenho hoje de reconhecer que se transformou numa mania. Na altura justificava-se plenamente que ao chegar pela 1ª vez a um blogue me mantivesse como mera espectadora, até o conhecer minimamente e saber se podia intervir, se me interessava, etc.

Com o tempo foi-se tornando um hábito. Hoje tenho a mania de não comentar um blogue onde acabo de chegar. Mania de os ir guardando, não apenas pelo critério do interesse que me despertem, mas também para explorar o que está para trás, muitas vezes percorrendo por inteiro desde o seu inicio. Mania de ler os comentários que fazem. Mania de voltar ao local do crime, sempre que coloco um comentário. Mania de ler assiduamente blogues onde ao longo de anos nunca comentei.


Enfim, manias! Cada um com as suas. Mas todas elas manias!