26/06/10

memórias ou leituras

Não é de hoje nem de ontem o meu prazer pela leitura. Vem do século passado (ui, vem do milénio passado!) e acredito que entre outros o pai foi sem dúvida um dos principais responsáveis. O pai e aquele livrinho pequenino, com uma capa de couro gravada, as páginas amarelecidas e uma escrita ainda meio arcaica, desenhada em estilo gótico como convinha ao tempo em que foi impresso. Era (ainda é) um dos tesouros da vasta biblioteca do pai, aquela onde só entravamos acompanhados, de mãos lavadas e só tocávamos no que nos autorizava, embora os seus olhos brilhassem (ainda brilham) cada vez que lhe pedíamos algum.

Deve ser das minhas primeiras recordações “e hoje que história queres que conte ou leia?” perguntava-nos ele todas as noites e eu, tão pequenita que nem lembro a idade, pedia-lhe invariavelmente “aquele papá, aquele, o pequenino” então na sua voz expressiva, inconfundível, lá começava ele a lê-lo e eu a tentar manter os olhos abertos para não perder pitada. Claro que não entendia nada, porque na meninice de uns 4 ou 5 anos é impossível entender Camões e a odisseia narrada em algo tão sublime como “os Lusíadas”. E, contudo, estou certa que foi aí que nasceu o meu prazer pelos livros.

Depois estranhamente (como dizia a mãe) lá veio aquela professora no 5º, ano de exame, quase no final de liceu, afirmar que ou eu aprendia a ler como deve ser, sem soletrar as sílabas como uma criança ou teria uma surpresa na pauta. Foi assim que conheci o capitão B. que tinha estudado no seminário e, amigo do pai, lá garantiu que não se preocupassem que eu havia de ler que nem um célebre erudito. Deixei o célebre erudito de lado mas aquela hora que lá passava todos os dias a ler em voz alta transformou-se no prazer que ainda hoje agradeço.

Aprendi que quando leio não me basta o enredo, foco-me nos pormenores que me permitem ou não ver (ou será viver?) a cena, fixo-me na capacidade da descrição ou na potencialidade da imaginação, na criatividade, no vocabulário mais ou menos vasto, no tipo de pontuação e em tantas outras características que uma página pode conter. “Para ler bem tens de entender o que lês mas sobretudo tens de o sentir” dizia-me e é nisso que mais me concentro: no que sinto, sejam quais forem as palavras que os olhos percorrem.

Muito mais tarde cruzei-me com contadores de histórias, aquelas figuras fenomenais que me encantam e transportam para outro mundo. E autores de livros fantásticos, com mais ou menos sucesso na banca. Finalmente, encontrei os bloguistas aquelas personagens desconhecidas, sem rosto e sem voz, mas que muitas vezes são autênticos príncipes na arte de escrever porque nos fazem sentir, porque nos fazem conhecer deles o que nunca veríamos só por lhes olhar os rostos.

Estranhamente (mais uma vez), acabo por reconhecer que não sou dada à poesia que as minhas limitadas capacidades nem sempre permitem entender, mas mais uma vez, cativa-me se a sentir. Gosto de ler. Adoro ler. Como se ler tivesse o condão de me transportar para outros espaços, outras vivências, outras formas de ver o mundo, a História ou o Homem. E pensar que tudo começou com os “cantos” transcritos num livrinho que eu não entendia mas se entrosava como um bichinho.



obrigada, em especial a si pai



17/06/10

:)

No inicio era um. No tempo em que o coração ainda não palpitava. No tempo da brincadeira, dos amores proibidos, inconsequentes, de beijos e abraços e sonhos e fantasias.

No inicio era um. Apenas um.

No inicio era um. Tão-somente um. Solitário. Irradiando energia. Exalando alegria. Transpirando juventude. No tempo das paródias. Dos amores e desamores. Num tempo irresponsável. Na época de feliz criancice.

No inicio era um. Somente um.

Não sei se foi magia. Talvez feitiçaria. Invasão de encantamento. Fascinação.

Abraço. Colisão. Transformação. Ilusão. Ou simples união. O tempo em que dois se tornam um.

Não sei se foi amor. Química ou matemática. De dois fizeram um.

No inicio era um…

Que importa o inicio?

Nem importa se era um.

Se dois se tornaram um.

No inicio era um…

E hoje… há mais um.


:)



07/06/10

a kind of magic

Com a primavera chega a época forte dos concertos que hoje fazem também as delícias de muitos jovens portugueses. Naquela época não era assim tão fácil.

Recordo o meu primeiro concerto que me ficou na memória como algo mágico que nunca esquecerei. A entrada no avião sem saber ao que ía… a chegada a um espaço tão repleto de gente como eu nunca vira antes… e depois… depois o êxtase de quem passa por uma série de emoções desde a perplexidade, ao fascínio, à felicidade. Queen, eu ía ver Queen ao vivo. Wembley! Difícil acreditar que era eu quem ali estava. Wembley!

Ainda hoje sempre que vou a um concerto espero voltar a sentir o que não consigo explicar por palavras. Mas nenhum voltou a imprimir-me aquela mesma sensação. Uma espécie de magia inconfundível.

Não tenho a certeza se foi por ser o primeiro, não sei se foi por ser Queen ou Wembley ou seja lá o que foi, sei apenas que foi único, sublime e transformou aquela tardia prenda de aniversário em algo inesquecível.



obrigada pais e mano por essa prenda mas sobretudo por estarem sempre a meu lado neste dia que acabou ter tantas outras coisas mais importantes a festejar



01/06/10

ou são "estúpidos" ou uns "mansos"

Reconheço a minha aversão a emigrantes ou estrangeiros que vêm armados aos cucos falar mal do nosso país ou do nosso povo. Nessas situações sou quase sempre tentada a pensar "ouve lá, para falar mal estamos cá nós, não precisamos de mais ninguém, portanto cuida lá da tua porcaria que de certeza não estás isento". É capaz de ser um pensamento mauzinho mas, enfim, ninguém é perfeito.

Contudo, às vezes tenho de reconhecer um pensamento lógico genial e aquele que transcrevo (solicitando a devida permissão a Mário Rodrigues que me deu a conhecer e que podem encontrar aqui e aqui) sem dúvida que o é:


"Sem comentários! Estava há dias a falar com um amigo meu nova-iorquino que conhece bem Portugal. Dizia-lhe eu à boa maneira do "coitadinho" português: Sabes, nós os portugueses somos pobres ... Esta foi a sua resposta: Como podes tu dizer que sois pobr...es, quando sois capazes de pagar por um litro de gasolina, mais do triplo do que pago eu? Quando vos dais ao luxo de pagar tarifas de electricidade e de telemóvel 80 % mais caras do que nos custam a nós nos EUA? Como podes tu dizer que sois pobres quando pagais comissões bancárias por serviços e cartões de crédito ao triplo que nós pagamos EUA? Ou quando podem pagar por um carro que a mim me custa 12.000 USDólares (8.320 EUROS) e vocês pagam mais de 20.000 EUROS, pelo mesmo carro? Podem dar mais de 11.640 EUROS de presente ao vosso governo do que nós ao nosso. Nós é que somos pobres: por exemplo em New York o Governo Estatal, tendo em conta a precária situação financeira dos seus habitantes cobra somente 2 % de IVA, mais 4% que é o imposto Federal, isto é 6%, nada comparado com os 20% dos ricos que vivem em Portugal. E contentes com estes 20%, pagais ainda impostos municipais. Além disso, são vocês que têm "impostos de luxo" como são os impostos na gasolina e gás, álcool, cigarros, cerveja, vinhos etc, que faz com que esses produtos cheguem em certos casos até 300 % do valor original, e outros como imposto sobre a renda, impostos nos salários, impostos sobre automóveis novos, sobre bens pessoais, sobre bens das empresas, de circulação automóvel. Um Banco privado vai à falência e vocês que não têm nada com isso pagam, outro, uma espécie de casino, o vosso Banco Privado quebra, e vocês protegem-no com o dinheiro que enviam para o Estado. E vocês pagam ao vosso Governador do Banco de Portugal, um vencimento anual que é quase 3 vezes mais que o do Governador do Banco Federal dos EUA... Um país que é capaz de cobrar o Imposto sobre Ganhos por adiantado e bens pessoais mediante retenções, necessariamente tem de nadar na abundância, porque considera que os negócios da nação e de todos os seus habitantes sempre terão ganhos apesar dos assaltos, do saque fiscal, da corrupção dos seus governantes e autarcas. Um país capaz de pagar salários irreais aos seus funcionários de estado e da iniciativa privada. Os pobres somos nós, os que vivemos nos USA e que não pagamos impostos sobre a renda se ganhamos menos de 3.000 dólares ao mês por pessoa, isto é mais ou menos os vossos 2.080 euros. Vocês podem pagar impostos do lixo, sobre o consumo da água, do gás e electricidade. Aí pagam segurança privada nos Bancos, urbanizações, municipais, enquanto nós como somos pobres nos conformamos com a segurança pública. Vocês enviam os filhos para colégios privados, enquanto nós aqui nos EUA as escolas públicas emprestam os livros aos nossos filhos prevendo que não os podemos comprar.

Vocês não são pobres, gastam é muito mal o vosso dinheiro.

Vocês, portugueses ou são uns estúpidos ou uns mansos."

(autor desconhecido

foi-me dado a conhecer por Mário Rodrigues)